1ª TESE PARA A PLENÁRIA: RECONSTRUIR A LUTA CLASSISTA E COMBATIVA NA USP!

A Rede Estudantil Classista e Combativa de São Paulo (RECC-SP), filiada à FOB e componente da REM, apresenta sua tese para a 1ª Plenária por um Movimento Autônomo e Combativo na USP.

Defendemos que a REM se torne uma grande organização estudantil, que lute de forma combativa pelas reivindicações da categoria. Para começar este trabalho, propomos a criação de campanhas permanentes, a definição de uma data para uma nova plenária e a criação de um estatuto da organização.

Além disso, a REM deve se unir a outros movimentos estudantis, principalmente estaduais, e ter um calendário de luta combativa conjunto. Reconhecemos que a maior força uspiana atual se encontra na Favela São Remo, no SINTUSP e no CRUSP. Sendo assim, é sempre com as lutas que partem destes locais que devemos estar alinhados! Avante a juventude combativa!

RECONSTRUIR A LUTA CLASSISTA E COMBATIVA NA USP

Tese da RECC-SP para a Primeira Plenária por um Movimento Autônomo e Combativo na USP

Mario (Militante da REM e RECC/FOB)

Marina (Militante da REM e RECC/FOB)

Todo movimento tem seu ritmo e curso próprios. Diferentes etapas se sucedem e é dever de seus militantes estudá-las para compreenderem as possibilidades e limites e, assim, definirem objetivos e métodos que sejam ao mesmo tempo reais e necessários.

A USP tem um grande histórico de resistência estudantil, que inclui mesmo a luta armada contra o regime militar-empresarial. Nos últimos anos, entretanto, um esforço comum entre Estado, burguesia e reformismo é responsável por uma ofensiva conciliadora, pacifista e assassina, que mata os movimentos de contestação e abre a porteira para a precarização, a repressão e a elitização da universidade.

A REM é uma organização jovem, prestes a celebrar seus dois anos de vida, dos quais passou quase metade inativa devido à pandemia. Sendo assim, é normal que ainda tenhamos debates e construções pendentes e que seu futuro e objetivos sejam incertos. Neste caso em específico, é inclusive positivo que tal coisa aconteça porque poderemos finalmente contar com uma plenária aberta e, portanto, com uma apresentação e construção pública da Rede.

É justamente pensando a etapa na qual estamos, a de estruturação e organização da REM e a da necessidade de retomada de um movimento autônomo e combativo, que defendemos a importância e tentamos fazer aqui um processo crítico da nossa organização, do qual nós possamos extrair ensinamentos importantes para construirmos nossa própria força. 

COMPANHEIRISMO SIM, COLEGUISMO NÃO!

Um dos maiores entraves do movimento estudantil atual é o que chamamos de coleguismo e amiguismo. Em poucas palavras, é a submissão da crítica e da organização às amizades. É um pacto de silêncio e de mediocridade, que subordina a política e a militância à dinâmica da amizade.

Tais práticas confundem a cabeça dos estudantes, que levam críticas políticas como ofensas pessoais, fugindo assim de um debate maduro e importante e caindo em uma defesa sentimentalista e personalista. O coleguismo, “além de infantil, é uma doença”[1]para nossos movimentos e o o amiguismo é “uma manifestação da despolitização do movimento estudantil em dias atuais” [2].

É urgente a superação do coleguismo e do amiguismo em qualquer organização autônoma, combativa e revolucionária. Isso não quer dizer, é claro, que devemos deixar de ter amigos no meio militante. Como diz Igor Dias, “o problema em si não está na relação amistosa dos militantes […], mas sim em como esta relação acaba sendo utilizada”.

Ao coleguismo e ao amiguismo, é preciso opor o companheirismo. Como diz Jodi Dean, “camaradas podem ser amigos, mas amizade e camaradagem não são a mesma coisa […] manter a diferença, a distância, entre elas requer trabalho, um importante trabalho.”[3] A camaradagem pode partir de uma amizade ou converter-se em uma, mas ela é, acima de tudo, política e de classe. Delimita quem está na mesma trincheira, torna-os iguais e os une contra o inimigo.

A luta e seus desdobramentos cria “laços vivos e irreversíveis”, produzindo e afirmando relações íntimas, “configuração franca do mundo, possibilidades nítida  de agir, meios ao alcance das mãos”[4]. Tudo isso, diz o Comitê Invisível, assusta muito mais do que quebra-quebras, porque aqueles companheiros e companheiras constituem, entre si, elos extremamente difíceis de serem quebrados e importantíssimos para a luta.

Sendo assim, o companheirismo, movido por relações igualitárias, profundas, respeitosas e sinceras, traz qualidades imensuráveis ao movimento em geral, e deve ser constantemente incentivado. Companheirismo sim, coleguismo e amiguismo não!

ESTRUTURAR A REM E SUPERAR O ASSEMBLEÍSMO

Elencamos nesta tese quatro problemas do movimento estudantil atual. Ao amiguismo e ao coleguismo, opomos, em primeiro lugar, o companheirismo. Resta, agora, responder à “estética revolucionária” e ao “assembleísmo”.

Curiosamente, vemos dezenas e dezenas de amigos e amigas, companheiros de curso que julgávamos conhecer bem e que agora fazem parte das fileiras de grupos oportunistas e reacionários. A explicação costuma ser simples: amiguismo e estética revolucionária. Tais pessoas se apaixonam por sinalizadores, bandeiras, documentos, falas inflamadas e artes digitais bem feitas. Mas o mais importante, que escapa a elas, é o conteúdo e a prática do movimento.

Apesar destes grupos pelegos e reformistas que conseguem uma parcela da juventude através da estética, é natural que seja o nosso campo o mais afetado por este problema. Suas consequências são o desgaste dos nossos militantes e a falta de direção clara da luta. É, portanto, preciso combatê-lo. 

Os resultados de tal desvio estético, escreve o Comitê Invisível, são claros: “esgotamo-nos num ativismo que não se enraíza em nada, entregamo-nos a um culto mortífero da performance, no qual se trata de atualizar a todo momento, aqui e agora, a identidade radical”. Tal situação, entretanto, não avança. O movimento sucumbe ao cansaço, à depressão ou à repressão, “sem que ninguém tenha mudado nada”[5].

O assembleísmo, por outro lado, é um entrave atual para as organizações que prezam, justamente, pela democracia de base. Este fenômeno aparece de duas formas.

Em primeiro lugar, é um freio para algumas ações e decisões. Por entender que absolutamente tudo deve ser submetido a “reuniões”, nada avança. Decisões políticas, debates e ações são parados, constantemente revistos e repensados, quando poderiam ser executados de maneira fácil e eficaz por Grupos de Trabalho, comissões ou mesmo por alguém a quem seja delegado. Tudo isso, é claro, sempre sob aprovação coletiva.

Do outro lado, vemos um vício do “horizontalismo”, também responsável por levar nossos militantes ao esgotamento. Sem uma organização  clara, que possa decidir os deveres e direitos coletivos e individuais, os trabalhos ficam sempre nas mãos de alguns mesmos militantes. Este grupo pequeno de pessoas se sobrecarrega e, ao mesmo tempo, cria-se a possibilidade de concentrar nas suas mãos um poder que rompe a democracia interna do grupo.

Coleguismo, amiguismo, “estética” e assembleísmo: eis um pacote de práticas que, apesar de manter o grupo funcionando por um tempo e dar uma falsa sensação de normalidade, age conjuntamente contra o avanço da luta combativa.  Muito além da mera mudança de comportamento – individual e coletiva -, é preciso criar mecanismos e condutas de organização que permitam avançar nestes pontos. Um deles é a criação e manutenção de espaços políticos de debate e crítica, tirando assim da esfera da amizade a responsabilidade coletiva.

É importante a estruturação interna da organização, tanto para o dia a dia (reuniões e atos, por exemplo), quanto para os momentos maiores, como as plenárias. Por isso, defendemos que a Primeira Plenária por um Movimento Autônomo e Combativo na USP já debata e encaminhe quando será a segunda plenária. Assim, podemos pensar, agora, de forma mais concreta no que devemos avançar e, no próximo encontro, avaliar criticamente o que foi feito e o que não foi.
 

NENHUM ESPAÇO AO REFORMISMO: POR UM AMPLO MOVIMENTO CLASSISTA E COMBATIVO

Atualmente, o movimento estudantil uspiano divide-se em vários coletivos e grupos, a maioria ligados a partidos reformistas e à reitoria. Centros Acadêmicos e o Diretório Central dos Estudantes são linha auxiliar  do reitor e servem de trampolim para estes coletivos. A luta estudantil, por melhores condições de vida e estudo, não são suas prioridades.

Temos, portanto, vários grupos pequenos e oportunistas que se unem nas instâncias ditas representativas dos estudantes para impedir e destruir qualquer iniciativa de mobilização geral da categoria. Não há, hoje, nenhum espaço estudantil de luta e disputa política real, independente da política reformista e do Estado, onde a massa estudantil possa se organizar. Criá-lo é o dever atual dos grupos e militantes combativos.

Entendemos que aí está a grande possibilidade da REM na conjuntura atual: ser uma alternativa autônoma, classista e combativa para os estudantes, uma organização que lute de forma democrática, combativa e efetiva pelas demandas estudantis. Se a maioria dos CAs e DCEs, mesmo quando mudam de chapas e coletivos, continuam, por causa de suas direções e de suas estruturas, fazendo acordos criminosos e sem mobilizar os estudantes, é preciso construir uma organização que cumpra este papel de luta.  

Defendemos que a REM seja essa organização e, para que isto aconteça, é preciso criar um Estatuto que possa concretizar a organização e que deve ser alimentado a cada plenária. Sugerimos o começo deste estatuto por dois pontos.

1) Em primeiro lugar, a REM deve fazer jus à ideia de se tornar uma organização classista e combativa ampla, admitindo dentro de suas fileiras todo tipo de militante que concorde com suas ideias e práticas. Se partimos do pressuposto de que nosso movimento estudantil está desmobilizado e é nossa tarefa retomar as práticas combativas, não podemos cair em posições que seriam sectárias, achando que tal luta é própria apenas a anarquistas ou a comunistas. A REM deve prezar pela pluralidade ideológica dentro dos seus princípios e métodos de luta.

2) Em segundo lugar, a REM não deve participar de eleições de CA nem de DCE. Tendo como proposta ser uma grande organização autônoma e combativa, deve prezar ao máximo por sua pluralidade, coesão e objetivos. A participação em eleições significaria grandes debates internos, que poderiam nos levar tanto a cisões importantes quanto a uma perda de energia gigantesca. Não há necessidade disso agora e que qualquer organização, grupo ou indivíduo que faça parte da REM e que queira disputar um CA/DCE, deve fazê-lo de forma exterior e independente da organização.

Entendemos que estes dois pontos são primeiros passos na estruturação de um Estatuto que garanta a construção e funcionamento de uma organização de mobilização dos estudantes e retomada de um movimento autônomo, classista e combativo na USP.          

TRANSFORMAR AS REIVINDICAÇÕES ESTUDANTIS EM CAMPANHAS PERMANENTES  

Como disse o Comunicado de Maio de 2021 da REM[6], sintetizando práticas já recorrentes da organização, é preciso focar nas reivindicações estudantis, fugindo da falsa politização atual que se resume a declarar-se contra um ou outro governo. As reivindicações estudantis, particulares e gerais, apagadas propositalmente pelos reformistas, mobilizam a categoria e criam uma luta permanente. Em outras palavras, “quando somos nós quem fazemos nossa própria luta – com nossas pautas e com nossos métodos -, a luta já é combativa, de forma e conteúdo”.

É por isso que nós defendemos que a REM transforme estas reivindicações estudantis em campanhas permanentes, começando pelo “Fora PM” e “retomada dos blocos K e L”.  Além disso, reivindicações históricas dos estudantes, como a abertura e manutenção de creches públicas para mães trabalhadoras e estudantes, o fim do vestibular e a autonomia e democracia universitária devem ser urgentemente retomados. As negociações dos CAs e DCE no palacete do reitor não devem nos impedir de ver e lutar por uma outra universidade.

PREPARAR A GRANDE LUTA PELA EDUCAÇÃO

Como apontou a FOB-SP em sua contribuição à Primeira Plenária do Bloco Combativo[7], o maior erro de um movimento combativo é cair em uma posição isolada, estando impossibilitado de crescer e se tornar força real.  A luta na USP não pode se destacar, de forma alguma, do seu entorno. Como apontou o Comunicado de Maio, é preciso superar a falsa politização atual e criar uma real consciência de luta na estudantada. Para isso, é importante apoiar e incentivar alianças com os movimentos de trabalhadores e professores da USP, assim como com outros movimentos estudantis, em especial de outras universidades estaduais, mas também com secundaristas e estudantes federais.

Propomos, portanto, que a REM crie um calendário de lutas e busque se integrar a articulações estudantis locais, regionais e nacionais. Um bom começo julgamos ser o dia 28 de março, Dia do Estudante Combativo, que deve servir para que os diferentes grupos estudantis de luta do país possam se articular em torno de pautas e objetivos comuns. Além disso, é importante celebrar e usar datas uspianas para propaganda e aproximação, como a Batalha da Maria Antonia, o Fora PM em 2011, a Marcha Antifascista em 2019 e tantos outros exemplos.

Na USP, também é preciso ter claro onde os trabalhos da REM devem se concentrar. Na nossa visão é preciso marchar lado a lado com as principais forças de luta atual, que são a Favela São Remo, o CRUSP e o SINTUSP. São estes grupos e locais os que mais lutam, e é com eles que devemos estar mais alinhados.

Por isso, é importante que a REM, que se estrutura agora, procure contato constante com outros grupos semelhantes. Como alertou Jo Freeman, grupos inestruturados e isolados podem seguir lutas, mas jamais criá-las e direcioná-las[8]. O resultado imediato disto é a submissão dos grupos pouco estruturados e sozinhos às grandes organizações nacionais, que decidem sozinhas os passos da luta. Ou seja, é a ruptura total do principio de autonomia.

CONSTRUIR A REDE ESTUDANTIL DE MOBILIZAÇÃO!

ESTRUTURAR UM MOVIMENTO AUTONOMO, CLASSISTA E COMBATIVO NA USP!


[1] A permanência da crítica ou Coleguismo, doença infantil do ME, de Oposição Classista e Combativa ao DCE – UFC. 2010. Link: http://oposicaocc.blogspot.com/2010/04/permanencia-da-critica-ou-coleguismo.html

[2] O problema do “amiguismo” no movimento estudantil, de Igor Dias. 2018. Link: https://www.novacultura.info/post/2018/08/14/o-problema-do-amiguismo-no-movimento-estudantil

[3]  Qual a diferença entre a Camaradagem e outras relações sociais? de Jodi Dean. Link: https://traduagindo.com/2020/10/15/qual-a-diferenca-entre-a-camaradagem-e-outras-relacoes-sociais/

[4] O amanhã está anulado, de Comitê Invisível. 2017.  Link: http://clinicand.com/o-amanha-esta-anulado-por-comite-invisivel/

[5] Pacifistas e radicais, um casal infernal, de Comitê Invisível. 2016. Link: https://subversivos.libertar.org/pacifistas-e-radicais-um-casal-infernal/

[6] Comunicado de Maio de 2021 da Rede Estudantil de Mobilização da USP. Link:  https://redeestudantil.wordpress.com/2021/06/11/rem-comunicado-de-maio-retomar-as-pautas-estudantis-e-os-metodos-combativos/

[7] Sobre o futuro do Bloco Combativo. Link: https://lutafob.org/9213/

[8] A tirania das organizações sem estrutura, de Jo Freeman. 1970. Link: https://jacobin.com.br/2020/03/a-tirania-das-organizacoes-sem-estrutura/

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